terça-feira, 19 de agosto de 2008

Argentina 3 x 0 Brasil


Tá bom meu Deus. Vou dar um desconto porque o senhor é brasileiro, mas vou te contar, o senhor sacaneou direitinho com a gente. Eu até aceito perder o tão sonhado ouro olímpico no futebol masculino, mas a derrota tinha que ser pra Argentina? E ainda mais de goleada (três a zero pra mim é goleada)? Não! Não precisava de tanto. O Senhor bem que podia ter pego mais leve. Bem que a derrota poderia ter sido por um a zero, com um gol impedido de Aguero, ou por três a dois, com o terceiro tento argentino nascendo de um pênalti mal marcado pelo juiz

Bem que o Senhor podia ter sido mais maleável. Mas não... Tinha que ser sofrido. Tinha que doer. O crescimento da inflação, a morte de Dercy Gonçalves, a liderança de Mendoncinha nas pesquisas para prefeito do Recife, tudo isso a gente agüentou calado, mas ser humilhado vergonhosamente pela Argentina já é demais. É pedir demais para nós, que somos pobre mortais.

Para piorar as coisas, ainda somos obrigados a agüentar aquele gordo, escroto, viciado, puxador de baseado, ex-atleta e considerado o segundo melhor jogador do mundo falando merda no nosso pé do ouvido. No lugar de Dercy, bem que o Senhor poderia ter levado, mais cedo, o nosso querido hermano Diego Maradona. Ninguém ia nem notar se o Senhor tivesse levado ele no lugar do Dorival Caymmi.

Acho que o Senhor devia ter dado um desconto pra gente. Pensa que é fácil torcer pra um time, cujo capitão não jogava há mais de seis meses? Acha que é fácil torcer por uma seleção comandada pelo Dunga? Uma confederação presidida por Ricardo Teixeira? E olhe que não vou nem falar do presidente da Federação Pernambucana, Carlos Ovonaboca Oliveira. Três a zero é demais!!

O senhor tirou o único divertimento futebolístico oferecido pela seleção, nos últimos anos, que era ganhar da Argentina. E agora? O que o Senhor vai fazer? Será que vai conseguir encostar sua cabeça no travesseiro e dormir tranqüilo essa noite? Vai ser difícil né? Espero uma retratação e quanto mais rápido melhor.

Bem que um terremoto, durante essa noite, poderia tirar a Argentina do mapa.

Seria ótimo acordar e não dar de cara com as manchetes dos jornais argentinos amanhã.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

13 anos depois

Engraçado! Nem parece que já se passaram 13 anos. O dia 11 chegou, foi embora e parece que ninguém notou. Ninguém chegou a notar o silêncio na casa de noite, o vazio no sofá da sala, aquele túmulo a mais no cemitério. Bem que disseram que a dor sumiria com o tempo. Só sobrou essa sensação estranha no estômago.

Não é raiva sabe... nem ódio... nem saudade desesperada. É mais um sentimento amargo que toma conta da gente devagar. Quando paramos para pensar como aquilo modificou nossas vidas. Mentira! Não foram as nossas vidas. Foi a minha vida.

Não é que eu não tenha gostado de crescer um pouco mais rápido. Até fiquei contente por ter recebido algumas responsabilidades e ter ajudado um pouco. Mas preferia ter tido um pouco menos de peso nos ombros.

Pra falar a verdade, não me importaria de trocar tudo isso, apenas que por alguns anos, por uma vida de rebelde sem causa. Poderia ter me importado menos, me interessado menos, me sentido menos obrigado a participar. Acho que teria sido legal ser reprovado no colégio, levado bomba na faculdade e errado mais no trabalho.

Poderia ter mandado o mundo à merda, os professores chatos ao caralho e aqueles mauricinhos do colégio ao inferno. Poderia ter dito pros vizinhos arrancarem os olhos de espiões, mandado meu chefe se fuder e obrigado meu tio chato a socar o dinheiro no cú.

Eu só precisava de você ali. Como quando eu era o garoto mais novo da rua.

“Jogue a pedra neles e corra pra casa. Aqui eu resolvo”.

Pedra eu não sei, mas teria enfiado um meteoro no mundo.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O menino do olhar perdido

Eu tenho que reconhecer, existem várias coisas que gosto no trabalho de jornalista (ou estagiário de jornalismo, caso prefiram). Além de gostar de escrever, coisa que vou aprendendo aos poucos, ainda costumo conhecer muita gente diferente. E foi justamente isso que me agradou quando passei uma semana no caderno de Grande Recife (caderno de cidades ou cotidiano) da Folha de Pernambuco. Normalmente, como setorista de esportes amadores, não costumo sair muito da redação, mas quando estava em Grande Recife, eu não me lembro de ter parado dentro da Folha. Por conta disso, pude conhecer inúmeras pessoas interessantes, e todas elas me marcaram de uma maneira diferente.


Logo na minha primeira saída, tive que cobrir a apresentação de dois homens acusados de balear uma cobradora de ônibus, deixando ela paraplégica. Na delegacia, conheci o garoto que efetuou o tiro. É... um garoto. Ele tinha 18 anos. Era um "gadinho", o que na gíria do crime quer dizer assaltante novo. O menino se enrrolou com a arma, que estava engatilhada, e disparou.

A primeira coisa que notei nele foi o olhar. Parecia perdido, como se não entendesse o lugar, onde estava. Naquela hora, reconheci a face de alguém que foi derrotado pela vida. Seu rosto esboçava aceitação. Era o rosto de quem tinha se declarado vencido. Para ele, aquele caminho não era surpresa. Acho que ele tinha decidido se entregar de vez. Parece que sua vida sempre esteve traçada. Não importa o que ele fizesse, não teria chance alguma.

É claro que fiquei triste pela cobradora. Mas tenho que reconhecer, senti pena do garoto. Pena da vida que ele não vai viver. Pena da vida que ele vai viver. Pena daquele olhar sem expressão, devastado pelo crime. Queria ter dito a ele que vai acabar tudo bem. Que ele podia mudar de vida. Que ele tinha um futuro. Poderia ter dito tudo isso.

Pena que nem eu acreditava.