terça-feira, 29 de abril de 2008

Aquele que controla os seus passos

Corra! Corra! Corra!

A ordem se repetia sem parar na sua cabeça. Não havia espaço para mais nada. Era só a ordem, nenhum cansaço, nenhuma idéia, nada. Por isso ela corria. Sem parar, sem pensar, sem saber se ainda estava sendo seguida. Uma vez ou outra, a ordem mudava. Às vezes era: Vire a esquerda! ou Vire a direita! Mas não passava disso. E ela continuava correndo.

Aquilo já durava dez minutos. O cansaço estava tomando conta de seu corpo, o bom senso indicava que continuar correndo seria uma burrice. O melhor era se esconder. Mesmo assim, a voz seguia repetindo a mesma ordem: Corra! E era uma voz tão doce, tão consciente, tão convincente, que nada faria com que ela discordasse. Ela só precisava continuar correndo.

Não demorou muito para que a paisagem da cidade começasse a mudar. As lojas comerciais do centro desapareceram, juntamente com as casas residenciais, que vagarosamente, davam lugar as árvores nas calçadas. Apesar do pavor que dominava o seu corpo, ela continuava correndo. Já não escutava mais o barulho de carros, nenhum veículo a seguia. Já podia parar, pensar no que fazer a partir de agora. Seu filho não parava de voltar à seus pensamentos.

De repente, foi arrancada de suas preocupações. Um carro preto estava estacionado em uma clareira, um pouco adiante. Era para lá que estava correndo. O pânico voltou com força. Não queria chegar no carro, precisava parar. Mas não parava. A ordem se tornou mais forte, não havia chances dela parar. O carro estava há cinco passos dela.

A ordem de parar veio há dois passos do carro. Ela parou no mesmo instante. Tentou correr para longe, mas não podia se mexer. Seu corpo parecia colado no chão. O suor estava cobrindo o seu rosto, o cansaço dominava sua mente. Só queria voltar para os braços do filho, do seu querido filho que, a esta hora, estava em casa esperando por ela. Mas não podia pensar nele agora, precisava pensar em como sair dali. Foi arrancada dos seus pensamentos por um movimento de dentro do carro. A porta de trás se abriu violentamente. Um homem loiro, de terno preto e óculos escuros, desceu do carro. Fazia quinze anos que não via aquele rosto, sabia que já não tinha saída.

- Olá Mari! Parece que faz anos que não te vejo. Diria que uns quinze anos, talvez. - Disse o rapaz, com um sorriso irônico desformando o seu rosto.
- Marcus, eu... - Ela mal havia começado a falar, antes que ele levantasse a voz para ela.
- Não quero ouvir suas desculpas. Só queria dizer que foi um erro fugir com aquela criança. Agora você vai morrer, e eu vou encontrá-lo, ainda hoje. - A frase foi dita sem nenhuma hesitação. Ela estaria morta em alguns segundos.
- Não toque nele Marcus. Você vai pagar caro por isso. Vou voltar do inferno para matar você. - O desespero havia tomado conta de todo o seu ser, precisava faze-lo mudar de idéia.

Mas uma força invísivel acertou seu estomago de repente. Não teve forças para fazer nada. Só podia chorar. Violentamente, a força invísivel a jogou contra uma das árvores que rodeavam a clareira. Ela ficou grudada contra a árvore. Não sabia como aquilo era possível, as raízes das árvores estavam se desprendendo da terra. Fincaram em seus braços e pernas, fazendo com que ela parecesse o Cristo pregado na cruz. O golpe fatal veio de um galho no chão. Rapidamente, ele flutuou sobre se corpo, e foi parar bem no local do seu coração. Mariana morreu sem entender o que havia acontecido.

Sem olhar para trás, o loiro chamado Marcus voltou para dentro do carro. Não sem antes elogiar alguém que não havia saído do carro escuro.

- Muito bem meu Peão! Agora vamos atrás do garoto.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Preciso de tempo

Depois de muito pensar, refletir e não chegar a lugar nenhum, terminei aceitando o fato de que os danos que o mundo vem sofrendo nos últimos anos, terminaram por afetar a questão temporal da terra. É impressionante como nos últimos tempos, o espaço de tempo existente entre o acordar e o dormir foram reduzidos pela metade.

Antes dava tempo de levantar da cama, caminhar sonolento até o banheiro, trocar de roupa assistindo o Bom Dia Brasil e sair de casa, sem precisar correr. Quando eu chegava na Secretaria de Saúde, local em que estagiava no ano passado, ainda dava tempo de sentar e comer aquele velho suco com coxinha. Tudo isso ainda me rendia meia hora de descanso antes de chegar ao trabalho.

Quando largava da SES, almoçava a velha coxinha com suco (vê-se logo que eu não gosto de repetir as refeições) e chegava na faculdade, faltando dez minutos para a aula. Depois da facu, ia para a TV Universitária, jantava o velho cachorro quente com refrigerante, e chegava em casa umas nove da noite.

Hoje, eu acordo correndo, tomo banho correndo, visto as roupas correndo, e ainda chego atrasado meia hora no Sesc, sem parada para tomar café. De tarde, largo do Sesc, almoço correndo, corro para a aula e chego quarenta minutos depois que o professor começou a aula. Na segunda aula, que também é a última, saio meia hora mais cedo, corro para a Folha (estágio da noite) e consigo chegar lá mais atrasado do que toda a redação. Lá pelas dez horas, eu finalmente chego em casa. Não dá pra assistir nenhum programa, ler nenhum livro, nem assistir nenhum episódio de Naruto. Vou direto tomar banho, jantar e dormir.

A minha pergunta é: onde foi que ficaram aqueles minutos que eu usava para lanchar e descansar? Como não sou cientista, estudiosa de física, nem nada, vou procurar alguém que possa me explicar o que houve. Tenho trezentos trabalhos para entregar ainda este mês na faculdade e nem sei como vou conseguir fazê-los. Caso alguém conheça algum vendedor de tempo, estou disposto a comprar alguns minutos extras para o meu dia. Não precisa ser muita coisa, basta unas seis horinhas.

PS: Nem sonhem com um bom salário. Como sou estagiário, não dá nem pra sentir o cheiro das verdinhas.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Preguiça

Sou um preguiçoso por natureza. Já tentei me emendar, me consertar, mas a preguiça sempre é maior. Até fico chateado com isso, mas nunca consegui dar jeito. Deixo de lado os trabalhos em que preciso pensar, para me deleitar com aqueles que já estão prontos, apesar de não serem meus.

Sempre fui um cara de muitas idéias e bastante criatividade. Acho que pensei em minha primeira história por volta dos treze anos. Era um enredo sobre um grupo de mercenários baseado em meus jogos de RPG. Lembro que a primeira cena era emocionante. Pelo menos na minha cabeça, já que nunca cheguei a colocá-la no papel.

De lá para cá, foram várias outras histórias, centenas de poesias, e milhares de novidades. Tenho cada um desses enredos guardados dentro da cabeça. Nenhuma linha escrita no papel. Sempre fui contrário aos maiores esforços, apesar de não achar isso bonito. Acho que o máximo que consegui escrever de uma dessas histórias foram 15 páginas. Todos que leram gostaram da idéia. Pena que a preguiça voltou a falar mais alto e terminei deixando de lado mais um candidato a best-seller (que forçada, hein!!).

Para começar esse blog, foi uma novela daquelas. O layout já estava pronto há duas semanas. Só faltava parar e escrever o primeiro post. Fui enrolando, enrolando e quase deixo o blog de lado. Como todo o resto dos meus projetos. Minha sorte é que a minha namorada é uma pessoa séria e me deu alguns puxões de orelha.

Graças a ela, parei para escrever o primeiro post. Que fala justamente sobre a minha preguiça em escrever. É um problema sério, mas que espero que eu consiga resolvê-lo. A partir de agora, serei um novo ser. Mais comprometido com os meus projetos.

Pelo menos até que a preguiça me vença outra vez.



PS: Dedicado à Má, pelo novo puxão de orelha.