quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O menino do olhar perdido

Eu tenho que reconhecer, existem várias coisas que gosto no trabalho de jornalista (ou estagiário de jornalismo, caso prefiram). Além de gostar de escrever, coisa que vou aprendendo aos poucos, ainda costumo conhecer muita gente diferente. E foi justamente isso que me agradou quando passei uma semana no caderno de Grande Recife (caderno de cidades ou cotidiano) da Folha de Pernambuco. Normalmente, como setorista de esportes amadores, não costumo sair muito da redação, mas quando estava em Grande Recife, eu não me lembro de ter parado dentro da Folha. Por conta disso, pude conhecer inúmeras pessoas interessantes, e todas elas me marcaram de uma maneira diferente.


Logo na minha primeira saída, tive que cobrir a apresentação de dois homens acusados de balear uma cobradora de ônibus, deixando ela paraplégica. Na delegacia, conheci o garoto que efetuou o tiro. É... um garoto. Ele tinha 18 anos. Era um "gadinho", o que na gíria do crime quer dizer assaltante novo. O menino se enrrolou com a arma, que estava engatilhada, e disparou.

A primeira coisa que notei nele foi o olhar. Parecia perdido, como se não entendesse o lugar, onde estava. Naquela hora, reconheci a face de alguém que foi derrotado pela vida. Seu rosto esboçava aceitação. Era o rosto de quem tinha se declarado vencido. Para ele, aquele caminho não era surpresa. Acho que ele tinha decidido se entregar de vez. Parece que sua vida sempre esteve traçada. Não importa o que ele fizesse, não teria chance alguma.

É claro que fiquei triste pela cobradora. Mas tenho que reconhecer, senti pena do garoto. Pena da vida que ele não vai viver. Pena da vida que ele vai viver. Pena daquele olhar sem expressão, devastado pelo crime. Queria ter dito a ele que vai acabar tudo bem. Que ele podia mudar de vida. Que ele tinha um futuro. Poderia ter dito tudo isso.

Pena que nem eu acreditava.

2 comentários:

disse...

Tem gente que a vida derrotou antes de poder começar a querer viver.

Bjo

Ferrugem. disse...

Mais uma vítima da sociedade. Talvez eu seja bem hipócrita ao falar isso. Mas nunca vai deixar de ser.